Quando se pensa em sumô, é comum imaginar lutadores corpulentos a empurrar-se num ringue circular. No entanto, por trás de cada combate está uma rotina de treino rigorosa, quase militar, que exige um nível de dedicação física e mental impressionante. O sumô não é apenas uma competição de força; é uma tradição japonesa profundamente enraizada na cultura e no respeito.
Acordar antes do nascer do sol
Os lutadores de sumô, conhecidos como rikishi, vivem em “estábulos” (heya), onde treinam, comem e dormem sob a supervisão de um mestre. O dia começa por volta das 5h da manhã, com uma série de rituais e alongamentos matinais. Esta rotina visa preparar o corpo para a carga física intensa que se segue.
Treinos que desafiam o corpo
As sessões de treino, chamadas keiko, duram várias horas e incluem técnicas de combate, empurrões repetitivos, resistência física e exercícios de equilíbrio corporal. Movimentos como o shiko (levantar uma perna e bater com força no chão) servem tanto para fortalecer os membros inferiores como para melhorar a estabilidade.
Os confrontos simulados entre colegas são constantes, com o objetivo de repetir gestos e reações até à perfeição. Este tipo de treino ajuda a aumentar o tempo de reação e a resistência à dor.
Alimentação estratégica e descanso controlado
Um dos aspetos mais curiosos do treino de sumô é a alimentação específica. A dieta dos rikishi é rica em calorias e nutrientes, sendo o chanko-nabe o prato principal: um guisado com carne, peixe, legumes e tofu. A primeira refeição só ocorre após o treino matinal, ajudando a maximizar o ganho de peso sem comprometer o desempenho.
Após a refeição, os lutadores descansam ou dormem, um hábito que favorece a retenção calórica. Este ciclo de treino intenso, refeição pesada e repouso é essencial para o desenvolvimento do corpo típico de um lutador de sumô.
Disciplina e hierarquia em tudo
O sistema de hierarquia rígida é levado muito a sério no sumô. Os lutadores mais novos têm tarefas domésticas e responsabilidades que vão muito para além do tatami. Só os de ranking mais elevado têm certos privilégios, como comer primeiro ou tomar banho com prioridade.
Esta estrutura não só reforça a disciplina como ajuda a manter o respeito pelas tradições, sendo parte integrante da formação de um rikishi.
Treino mental e preparação emocional
Para além da componente física, o treino psicológico é constante. Os rikishi são incentivados a manter o foco, controlar as emoções e desenvolver uma postura respeitosa. A meditação e o respeito por rituais antes dos combates ajudam a criar um estado de concentração absoluto.
Adaptação e sacrifício ao longo da carreira
A carreira de um lutador de sumô é exigente e curta. As lesões são frequentes e o peso corporal, embora essencial para o combate, coloca pressão sobre articulações e órgãos internos. Por isso, muitos rikishi reformam-se jovens e enfrentam desafios de saúde mais tarde.
Ainda assim, o orgulho de atingir o topo deste desporto tradicional e o respeito adquirido são motivações que compensam os sacrifícios.
O sumô como lição de resiliência
O treino intensivo dos lutadores de sumô é uma verdadeira lição de resiliência, disciplina e entrega. A força destes atletas não está apenas nos seus corpos, mas também na sua capacidade de seguir uma vida regrada e cheia de simbolismo. Para quem pratica desporto, conhecer o quotidiano de um rikishi pode ser uma fonte de inspiração singular.